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Foto do escritorElton Voltolini, Dr. Eng

Os 3V´s que lhe farão repensar sua Cadeia de Suprimentos

Visibilidade, Variabilidade e Velocidade

Toda empresa participa de pelo menos uma cadeia de suprimentos e com o aumento da interdependência das empresas, a competitividade não é apenas um aspecto individual e sim coletivo. Diante deste desafio, este artigo apresenta e debate os efeitos da Visibilidade, da Variabilidade e da Velocidade - os 3 V´s do Supply Chain - nas cadeias de suprimentos, tanto sob a ótica individual, quanto suas inter-relações.


Cadeias de Suprimentos sob um olhar muito atual


Quando se fala em gestão da cadeia de suprimentos (Supply Chain Management), sabe-se que se está diante de uma tema complexo e de grande importância para a competitividade das organizações. Pode-se mesmo dizer que as empresas que verdadeiramente entendem o tema e se propõem a tratá-lo, adquirem uma nova perspectiva estratégica de como atuar no mercado. Esta perspectiva, que deve ser desdobrada em termos táticos e operacionais, reforça a conexão da empresa com outros elos - fornecedores (à montante) e clientes (à jusante) - pelos quais fluem fluxos de materiais, informações e recursos financeiros.

Foi a partir dos anos de 1990 que o Supply Chain Management ganhou protagonismo nas universidades, consultorias e grandes empresas, com um grande número de estudos e de iniciativas aplicadas decorrendo desde lá. Dentre os diversos estudos que vem compondo o corpo de conhecimento sobre Supply Chain Management nestas décadas, queremos abordar aqui um importante artigo escrito por Arthur Mesher, do influente Gartner Group, intitulado "The 3 V's of supply chain – visibility, variability and velocity". Este artigo, trouxe luz sobre os desafios e as características de cadeias de suprimentos exitosas, enfatizando as melhorias capazes de impulsionar o crescimento lucrativo.

Os três atributos identificados por Mesher - Velocidade, Variabilidade e Visibilidade - ajudam a compreender melhor e gerenciar a cadeia de suprimentos no qual um negócio está inserido, permitindo inclusive avaliar a coesão entre os elos desta cadeia para efetivação de uma estratégia específica junto ao mercado-alvo. Cumpre destacar que estes atributos estão presentes em graus diferentes nas diversas cadeias existentes e que os mesmos estão relacionados a um grande conjunto de fatores do contexto destas cadeias e de práticas adotadas pelas empresas participantes.

Antes de abordar cada um dos atributos, queremos destacar a atualidade dos mesmos e sua relação com temas como Cadeias de Suprimentos Ágeis, Logística Virtual e Indústria 4.0, para os quais sugerimos ler artigos relacionados no Blog da EXCENT. Organizações que tem altos graus de nos 3 V´s também têm sido mais exitosas no gerenciamento dos fluxos internos e externos (materiais, informações, financeiro), apresentam melhor nível de atendimento aos clientes e possuem melhor fluxo de caixa e retorno sobre capital investido.

 

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Visibilidade


A Visibilidade é um atributo relacionado à capacidade de um organização ou de parte representativa da cadeia de suprimentos de "ver" o que está acontecendo no âmbito da cadeia de suprimentos, e agir sobre isto. O conceito intrínseco à visibilidade é de que o conhecimento qualificado dos dados, que são transformados em informações permite ações alinhadas, coordenadas e assertivas por parte dos integrantes da cadeia de suprimentos.

No atual contexto de digitalização de operações, adoção de recursos como IoT (Internet-of-Things, Internet- das-coisas), armazenamento na nuvem, sistemas e tecnologias interconectados geram uma quantidade de dados extraordinária; de forma que o maior obstáculo à Visibilidade está no tratamento dos dados e no seu uso para gestão, e não na disponibilidade de dados em si.

A Visibilidade nas cadeias de suprimentos está ligada a outro conceito denominado Enriquecimento Informacional, que trata do compartilhamento de dados e informações entre elos da cadeia a respeito da demanda dos itens, níveis de estoque, localização dos estoques e previsão das entregas. Esta gama informações compartilhadas permite a ampla otimização das operações, com alto nível de atendimento.

Além de permitir o monitoramento em tempo real, é possível que a Visibilidade propicie a antecipação de ocorrências indesejáveis e com isso, cabe às empresas desenvolverem relatórios e dashboards (painéis) que apoiem às equipes envolvidas nas atividades no controle e execução do dia-a-dia. Além softwares voltados ao tracking dos processos (MES, rastreamento de transportes, controle de separação de pedidos, controle de pedidos de vendas), a Inteligência Artificial e o Big Data são tecnologias promissoras para esta abordagem preditiva.

São inúmeros os exemplos de aplicações relacionadas a altos níveis do atributo Visibilidade nas cadeias de suprimentos, dentre os quais podemos mencionar, antecipação de envios para evitar atrasos, identificar aumento eu redução do nível de consumo de um item, identificar a etapa do processo de produção na qual está um pedido de cliente, acompanhar caminhões que estão trazendo mercadoria do porto, acompanhar prazos de validade de produtos, dentre outros.

Certamente as organizações e as cadeias de suprimentos com altos níveis de Visibilidade são capazes de enxergar os problemas entes de ocorrerem e com isso evitar desperdícios e insatisfações. A própria Variabilidade, outro atributo, é positivamente impactada, gerando uma combinação muito poderosa, como veremos a seguir.


Figura 01 - Cadeia de Suprimentos e Visibilidade



Variabilidade


Se existe uma coisa nociva ao desempenho das operações no âmbito das empresas e das cadeias de suprimentos ela atende pelo nome de variabilidade. O atributo Variabilidade engloba as flutuações existentes das diversas variáveis do negócio, as quais impedem a exatidão e a precisão dos mecanismos de antecipação existentes.

Para ficar mais claro os impactos negativos da alta Variabilidade, considere algumas situações abaixo:

  • o consumo irregular de matérias-primas pela manufatura aumenta os custos do produto e ocasiona a falta de estoques destas matérias-primas para atender o plano de produção;

  • a flutuação no tempo de desembaraço aduaneiro compromete a preparação correta do importador para retirar contêineres do porto, causando pagamento de taxas extras;

  • previsões de demanda com alto nível de erro (MAPE) em relação aos pedidos de vendas geram rupturas de estoques, horas-extras não programadas e outros problemas;

  • a baixa confiabilidade no transporte, expresso em variações dos tempos de transporte, demandam a antecipação de transferência e o aumento do nível de estoques.

Em se falando de estoques, este é um dos grandes mecanismos de amortecimento presentes nas cadeias de suprimentos para mitigar a presença de variabilidade; especificamente o estoque de segurança. Este é definido como a quantidade de estoque prevista para cobrir as incertezas a jusante (incertezas de demanda) ou a montante (incertezas de fornecimento), permitindo que a execução dos processos de negócio transcorram com maior nível de estabilidade e melhor nível de serviço.

Os estoques de segurança e todo o arsenal de contramedidas adotadas pelas organizações para se contrapor às variações de todos tipo presentes nas diversas etapas das cadeias de suprimentos, infelizmente cobram um alto preço. Em termos financeiros existe uma redução de caixa disponível e menor retorno sobre o capital investido (ROIC); em se tratando de gestão das operações, existe um aumento de transportes e movimentações, maior necessidade de área de armazenagem, processamento desnecessário, custos extras com mão-de-obra operacional e maior esforço de análise e gestão. Enfim, um conjunto de gastos explícitos e ocultos decorrem de medidas para redução do grau de variabilidade ou adaptação a esta.

Se por um lado a conta advinda da alta variabilidade é alta, pior tende a ser o impacto de não amortecê-la, trazendo as flutuações externas para dentro das organizações, ou repassando as mesmas aos clientes. Um dos grandes impactos neste caso seria o aumento expressivo da falta de produtos para os clientes e a inconsistência nas entregas, trazendo a redução progressivas nas vendas e comprometendo seriamente a marca até um nível irreversível.

Cumpre destacar que sempre existirá um determinado nível de Variabilidade para cada variável do negócio, sendo recomendável realizar um trabalho diligente por sua redução progressiva a patamares controláveis, permitindo que os processos operem dentro de margens toleráveis de variação. Neste sentido a estabilização do processo com uso de técnicas agrupadas no Six Sigma, a redução das variáveis de interferência, bem como a melhoria das técnicas de planejamento são vetores poderosos para redução da Variabilidade.

Além dos vetores mencionados anteriormente - sem a pretensão de esgotar a listagem - é muito interessante observar a correlação inversa que existe entre os atributos Visibilidade e Variabilidade, sendo o segundo dependente do primeiro. Elementos próprios da Visibilidade, tais como, o compartilhamento de dados e informações ao longo da cadeia de suprimentos, o monitoramento dos processos e atividades, permitem trabalhar com dados reais e não expectativas, também melhoram a capacidade de planejamento e a possibilidade da ação antecipada, reduzindo o nível das incertezas.

Fato é que a Visibilidade é um agente importante para redução da Variabilidade, atacando algumas de suas causas e agindo para minimizar suas consequências negativas. Uma destas consequências é justamente a redução ou variação da velocidade ao longo da cadeia de suprimentos, o terceiro dos 3 V´s.


Velocidade


A Velocidade pode ser definida como a taxa média de negócios ou transações realizadas numa unidade de tempo, considerando um longo período de análise. É oportuno salientar que a Velocidade - denominada Rapidez ou Tempo, por alguns autores - é também estabelecida como um dos 5 objetivos de desempenho tradicionais da estratégia de operações, ao lado de: Custo, Qualidade, Flexibilidade e Confiabilidade. Os objetivos de desempenho - é bom esclarecer - servem de guias e dimensões de desempenho para direcionar os esforços das diversas atividades no contexto das operações das empresas e com isso atenderem as expectativas dos stakeholdes.

A Velocidade também está relacionada a um conceito clássico que foi incorporado ao Supply Chain Management; trata-se da Competição Baseada no Tempo (Time Based Competition), desenvolvido por George Stalk, da BCG, que cunhou o termo pela primeira vez em um artigo da Harvard Business Review de 1988 "Time — The Next Source of Competitive Advantage", e posteriormente publicou um livro em 1990, Competindo Contra o Tempo: Como a Concorrência Baseada no Tempo está remodelando os mercados globais.

Segundo Stalk, a competição baseada no tempo é uma demonstração do poder da gestão do tempo, e como as empresas podem usá-la para obter uma vantagem competitiva. Para as empresas que fazem melhor uso do tempo à medida que respondem e se adaptam às mudanças no mercado e outras condições e obstáculos possíveis, elas ganharão uma vantagem adaptativa. Mas a competição baseada no tempo é mais do que apenas ver o tempo como um recurso crítico, é sobre o tempo como base de estratégia.

A Velocidade como atributo das cadeias de suprimentos pode permear diversas frentes de atuação, aumentando a capacidade de realizar melhorias, oferecer atendimento mais rápido e aproveitar oportunidades de mercado, por exemplo. Isto não é pouco, pois em tempos de clientes impacientes e operações globalmente interconectadas, transformar ideias em algo palpável permite uma dianteira lucrativa e um espaço de destaque na mente dos clientes e consumidores.

Um cadeia de suprimentos mais veloz, transforma informações e materiais em recursos financeiros mais rapidamente do que suas concorrentes, melhorando o giro dos estoques e o fluxo de caixa, aspecto essencial para a boa saúde do negócio. Com menos dinheiro sendo necessário para manter a operação e gerar receita, aumenta a possibilidade de investimentos em novos negócios ou na expansão dos negócios existes, reduz-se a dependência de capital externo, o que torna mais sólida a posição financeira das empresas integrantes desta cadeia.

Por fim, fazendo uma análise retrospectiva, ao mesmo tempo que as cadeias de suprimentos se tornaram mais longas, complexas e dispersas globalmente, aumenta a necessidade de executar transações e processos de maneira mais rápida. Caso não houvesse o desenvolvimento de meios que favorecessem a velocidade, a competitividade das cadeias de suprimentos com este novo perfil estaria seriamente comprometida, e estas teriam dificuldades de competir com cadeias de suprimentos com bases regionais ou com empresas mais verticalizadas. No entanto, o que se vê atualmente é o triunfo de empresas globais que seguem ampliando seu marketshare interconectando suas várias plantas e fornecedores.


Considerações finais


A atualidade dos atributos Visibilidade, Variabilidade e Velocidade nas cadeias de suprimentos algo que não se pode questionar frente aos seguidos avanços na ampliação da horizontalização das operações, que envolve um número crescente de empresas distintas na oferta de valor aos consumidores.

Outro ponto perceptível é interconexão dos atributos, cujos níveis de desempenho geram influencias cruzadas. Assim, a Visibilidade em alto nível favorece a redução da Variabilidade, que por sua fez favorece maior Velocidade ao longo da cadeia de suprimentos. Por outro lado, altos níveis de Variabilidade comprometem seriamente a Velocidade dos fluxos estabelecidos, exigindo como contraponto alta velocidade na adaptação para compensar os efeitos negativos e permanecer competitivo. Com o alinhamento positivo entre os três atributos constrói-se um contexto extremamente favorável ao aumento do desempenho financeiro, comercial e das operações, momento um círculo virtuoso que distancia a cadeia de suas concorrentes.

Para construir este círculo virtuoso é premente compreender de maneira profunda como Visibilidade, Variabilidade e Velocidade afetam sua empresa e as estratégia das cadeias de suprimentos que ela participa, bem como identificar quais são as variáveis que influenciam no nível de cada atributo. Por fim, para alcançar os resultados desejados, entendemos que ações de melhoria serão necessárias em dimensões como processos, malha logística, tecnologia e arquitetura de informações, pessoas e governança.

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